segunda-feira, 6 de julho de 2009

PRISIONEIROS PALESTINOS DESAFIAM O IMPOSSÍVEL: TRANSFORMAR PRISÕES EM UNIVERSIDADES


O Movimento Nacional de Prisioneiros Palestinos é uma grande escola, em todos os sentidos, que merece interesse na condução de pesquisas e estudos, primeiro para esclarecer os vários aspectos da resistência nas prisões da ocupação e, em seguida, prestar homenagem a estes homens, mulheres e crianças que não medem sacrifícios para a Libertação da Pátria.

Apesar da feroz repressão e tratamento desumano, não obstante às condições de detenção e tortura, prisioneiros palestinos e árabes da ocupação israelense tentam superar as dificuldades para se adaptarem às suas circunstâncias excepcionais e graves. Eles souberam, desde a infância, que sua história seria escrita com sangue e que qualquer vitória só viria com enormes sacrifícios. Eles sabem, desde a mais tenra idade, que a ocupação visa a sua cultura e patrimônio, com vista a reduzi-los a mais completa ignorância . É por isso que eles não se deixaram abater e não se entregaram essa amarga situação. Armado com uma vontade de aço e uma inabalável determinação, eles organizaram e liderararam a luta atrás das grades para melhorar a suas condições de detenção e arrebatar os seus direitos fundamentais. Ofereceram mártires, um após outro, e conseguiram tecer a sua própria história, cheia de sacrifícios. Nunca na história humana, uma experiência coletiva atrás das grades foi tão brilhante como o movimento dos presos nas prisões da ocupação israelita.

Uma dessas conquistas foi a de transformar as prisões e centros de detenção em bastiões revolucionários , em escolas e universidades para formar gerações após gerações, os líderes e os engenhosos e obstinados ativista, escritores e poeta magistralmente criativos. No início foi difícil obter o papel e o lápis. O cigarro ou qualquer pedaço de papel e papelão foram utilizados quando conseguiam contrabandear canetas para dentro das prisões. A mesma pena era utilizada por vários grupos para transmitir instruções. Prisioneiros fizeram greve da fome para obter cadernos e lápis, bem como o direito de recorrer aos livros. Alegaram-se o direito de organizar programas e cursos de formação em vários domínios.

A administração da prisão passou a reprimir o material escrito nos livros, monitorando, controlando e confiscando esses escritos. Ela queria controlar o tipo de livro introduzido na prisão e proibir sua utilização por motivos fúteis. A situação evoluiu e, com muita luta, foi melhorando de forma que aos presos foram dadas as informações necessárias, cadernos, lápis e livros, embora essas "generosidades" pudessem ser contestadas a qualquer momento. Os reclusos obtiveram os meios de auto-instrução , troca de experiência ou formação pelas coletivas sessões educacionais.

Muitos reclusos têm seguido os cursos fornecidos por organizações, obtendo uma formação inigualável. Alguns prisioneiros têm dado mais importância à escrita e nisto foram notáveis, quer sob a forma de poemas, notícias curtas, artigos, estudos e pesquisas em diversos campos. Atrás das grades da ocupação, os prisioneiros têm escrito e continuam a escrever centenas de contos, muitos poemas e Estudos Políticos. Muitos reclusos têm continuado a escrever, mesmo após a sua libertação quando se interligam a escritores, poetas, jornalistas e tradutores.

A luta para aderir à universidade e à educação à distância

Em 1992, uma greve de fome indefinida, que foi estendida a todas as prisões, durou entre nove e dez dias. Dentre os muitos direitos arrancadas durante a greve, destaca-se o de aderie às universidades através da educação por correspondência. Mas as autoridades prisionais não permitiram que se matriculassem fora das universidades do ocupante. Apesar dessa restrição, centenas de presos se matricularam em cursos e prosseguem os seus estudos universitários, obtendo licença em diferentes graus ou áreas.Isso criou uma enorme dinâmica entre as centenas de presos que estavam no ensino médio ou universitário, por ocasião de sua detenção.

Presos diplomados

Muitos prisioneiros obtiveram sua graduação superior, tais como Samir Qintar, que tinha obtido a licença em Ciências Humanas e Sociais e concluiu a sua licenciatura em junho 1997, na Universidade Aberta da Tel Aviv. Agora, ele está estudando para os outros graus.
Em Junho de 2005, o prisioneiro Hassan Mahmud Muhammad Ighbarieh, da aldeia al-Mshayrife do Triângulo (área ocupada em 1948), detido desde 1992 e condenado à prisão perpétua, depois de quinze anos na prisão, formou-se em ganhou o grau de Magistério em Ciências, na Universidade Aberta de Tel Aviv. Ele tinha se formado anteriormente em Ensino de História e Ciências Políticas.
Em maio de 2007, o prisioneiro Atef Mansur Rayan, da aldeia de Bani Hassan Qarawa ( região de Salfit) recebeu o diploma de licenciatura em Relações Internacionais e Ciência Políticas na Universidade Aberta, enquanto esteve detido na prisão Haddarim.

Desafio único: defesa de teses pelo celular

Alguns presos foram capazes não só de continuarem seus estudos, mas também discutir os seus trabalhos e controlar as suas dissertações de doutoramento através de telefones celulares que tinham clandestinamente na prisão. Muitos prisioneiros foram detidos quanto estavam na Universidade. Na prisão, continuaram os seus estudos, mantendo contato com seus colegas e professores.
Em 16 de Agosto de 2003, o prisioneiro Nasir Abdel Jawad, 38, discutiu sua tese de doutorado a partir do interior da prisão, graças a uma ligação de uma horas e meia com a equipe de professores da Universidade Nacional de Al-Najah. Ele obteve o seu grau e é considerado o primeiro prisioneiro, no mundo, a obter o seu doutoramento durante a sua detenção.
Pouco tempo depois, no mesmo ano, o prisioneiro palestiniano Nidal Sabri Rashid Rashid, 29 anos, fala através do celular por uma hora e meia com seu mestre e com a equipe de professores da Universidade de Bir Zeit, de dentro da prisão Ofer.
Em Maio de 2006, o prisioneiro Tariq Abdel Karim Fayad foi capaz de discutir com seu mestre na Universidade de al-Quds, pelo celular, enquanto estava na prisão de Ofer. Fayad não havia terminado sua tese quando foi preso pelo ocupante. Assim, ele completou seus escritos na prisão.
Estes são apenas alguns exemplos recentes de uma longa luta dos prisioneiros para aprender e educar-se, apesar das medidas repressivas. O Movimento Nacional de Prisioneiros é uma grande escola, em todos os sentidos, que merece interesse na condução de pesquisas e estudos, primeiro para esclarecer os vários aspectos da resistência nas prisões da ocupação e, em seguida, prestar homenagem a estes homens, mulheres e crianças que não medem sacrifícios para a Libertação da Pátria.

Abdel Nasser Ferwana
Publicado em 26 de outubro de 2007
traduction Centre d’Information sur la Résistance en Palestine – CIREPAL
Tradução e Resumo: Viva Palestina Niterói