Foi Homero, em sua obra Odisséia, que cunhou o termo pirata. O tempo passou, os ataques continuaram. Durante o Império Romano, lá estavam os piratas. Na Idade Média, os piratas praticavam pilhagens. Inúmeros livros e filmes romantizaram os “Piratas do Caribe”. Eram saqueadores ou seqüestradores. Três séculos depois do famoso Pirata Barba Negra, a atenção do mundo está voltada para os piratas do Chifre da África. Mas deveria se voltar para um fato ocorrido no final do mês de junho deste ano quando a marinha de Israel cometeu um ato de pirataria.
No texto abaixo, o jornalista norteamericano, Paul Craig Roberts, faz uma contundente crítica ao ataque da marinha israelense ao navio “Espírito da Humanidade”
Israel atacou ilegalmente, em águas internacionais, o navio "Espírito da Humanidade", raptando 21 pessoas da tripulação de 11 países. Entre os detidos estavam a congressista dos EUA, Cynthia McKinney e a Prêmio Nobel Mairead Maguire. A Marinha israelense também confiscou a carga transportada pelo navio que estava a caminho da costa mediterrânica de Gaza: suprimentos médicos, oliveiras, material de construção e brinquedos para crianças. Tudo isso baseada numa forma muito particular de interpretar as leis internacionais em benefício próprio com tanto cinismo que o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel informou aos funcionários da embaixada americana em Tel Aviv que Gaza continua a ser considerada uma área de conflito e que a qualquer tentativa de barcos a vela em direção à Gaza não seria permitida alcançar seu destino.
Gaza tem sido descrita como "o maior campo de concentração do mundo", onde vivem 1,5 milhão de palestinos que foram expulsos pela força das armas americano-israelita, perdendo suas casas, suas explorações e suas aldeias para que Israel pudesse roubar suas terras e colocá-las à disposição dos colonos israelitas..O que temos assistido por 60 anos é um replay da colonização nos tempos modernos. Apesar de as Nações Unidas e as leis internacionais restringirem o roubo que Israel pratica sobre as terras palestinas, está se repetindo o que aconteceu nos séculos XVII, XVIII e XIX com o roubo de terras indígenas pelos Estados Unidos. Um porta-voz governo israelense repreendeu, recentemente, o presidente dos Estados Unidos, dizendo que um país que roubou todas as suas terras de índios não pode se queixar de Israel roubar terras da Palestina.
Eu sabia que o "Espírito da Humanidade" cairia nas mãos da pirataria israelenses no momento em que recebi, em 25 de Junho, a informação de um funcionário de uma organização de paz israelense que o governo do Chipre tinha negado a permissão para viagem do barco para Gaza. Ao assinar um termo isentando Chipre de qualquer responsabilidade em relação à segurança da tripulação, o "Espírito da Humanidade" obteve, finalmente, a permissão para deixar Chipre . A grande contradição nessa história é do presidente Obama e da Cruz Vermelha Internacional que clamam por ajuda humanitária a ser enviada para Gaza devido ao desumano bloqueio de Israel , mas não se dispuseram a providenciar uma escolta para o navio "Espírito da Humanidade" como forma de garantir sua passagem segura pelas águas internacionais para Gaza. Os Estados Unidos enviaram vários navios contra os piratas somalis. Por que não contra os israelitas?
Os Estados Unidos posam de grande defensor dos Direitos Humanos. Mas só quando isso é conveniente para eles e jamais defendem os direitos humanos quando o abusador é Israel. E não há nenhum mistério nessa atitude. Israel tem o Congresso e o Governo dos Estados Unidos nas mãos. Até o comando das Forças de Defesa da Casa Branca está com um cidadão israelense. Além disso, Israel controla milhões de americanos "cristãos sionistas" e "fundamentalistas evangélicos”. Quando se trata de Israel, o governo americano é um estado fantoche que fazem aquilo que Israel manda.
Os valentes norteamericanos se curvam diante de Israel
Israel, obviamente, vai se livrar da acusação de pirataria. Afinal, tem se livrado das condenações de todos os seus crimes de guerra e violações do direito internacional há 60 anos. Se a ONU tentar fazer alguma coisa, os E.U. vetarão, como vem fazendo há décadas. Após libertar os seqüestrados do navio “ Espírito da Humanidade” e mandá-los de volta aos a seus respectivos países, Israel, evidentemente, manterá a posse do "Espírito da Humanidade" para impedir quaisquer outras tentativas de ativistas dos direitos humanos, de socorrer os palestinos de Gaza, vítimas do desumano bloqueio.
Israel ainda pode alegar que os seqüestrados queriam ajudar o governo do Hamás, democraticamente eleito pela população dos territórios ocupados, que é considerado uma organização terrorista pelos Departamento de Estado fantoche americano em Washington. Dessa forma pode ainda acusar os ativistas dos direitos humanos a bordo do "Espírito da Humanidade" de cumplicidade com terroristas. O Ministério da Justiça dos EUA julga os cidadãos americanos e de caridade, que enviam ajuda aos palestinos, com base no fato de palestinos, se não são todos terroristas, são pelo menos regidos por terroristas.
Eu não ficaria surpreso se um Prêmio Nobel e um ex-membro da Câmara dos Representantes os E.U., juntamente com o resto da tripulação, fossem entregues aos americanos para a detenção indefinida e para serem torturados com afogamento em Bagram . Estou certo de que "Homeland Security" e o governo dos E.U. estão desesperados para se livrarem de todos os seus críticos, expulsando um Prêmio Nobel e um membro da Câmara, estabelecendo um precedente para acabar com o resto de nós.
Paul Craig Roberts foi Editor Associado do Wall Street Journal e secretário adjunto do Tesouro dos E.U. durante o primeiro mandato do Presidente Ronald Reagan
