terça-feira, 4 de agosto de 2009

ANISTIA INTERNACIONAL APÓIA CONCERTO DE LEONARD COHEN, CONTRIBUINDO PARA MINAR A CAMPANHA DO BOICOTE



Em maio de 2009, a Campanha Palestina para o Boicote Acadêmico e Cultural a Israel (PACBI) exortou cantor e compositor Leonard Cohen a acatar o apelo da campanha e evitar a cumplicidade com as violações do direito internacional praticadas por Israel, suspendendo o seu concerto planejado para setembro em Israel, sobretudo na perspectiva dos crimes de guerra em Gaza, no início deste ano.

Mas Leonard Cohen contou com uma grande aliada para justificar a manutenção do concerto: a Anistia Internacional dos EUA que negocia com Israel as bases do contrato para apresentação do artista. A entidade está propondo que o dinheiro arrecadado com o concerto seja destinado a um novo fundo que será utilizado para financiar programas para a “paz”. A Anistia Internacional inaugurou, assim, uma nova forma de lavar dinheiro sujo de sangue: a desculpa de destiná-lo para promover a paz.


Ao apoiar o concerto de Cohen em Israel, a Anistia Internacional está a minando os esforços e o sucesso da sociedade civil da Palestina e internacional pelo fim da ocupação de Israel e outras violações do direito internacional e os princípios dos direitos humanos. Essa postura da Anistia é particularmente estranha, principalmente face ao seu apelo pelo embargo de armas a Israel após suas atrocidades em Gaza, no início deste ano, que esta organização descreve como constituindo crimes de guerra. Lucros obtidos através de violações dos direitos humanos e do direito internacional são sujos e não devem ser aceitos por qualquer organização de direitos humanos moralmente coerente.


Parceiros indesejáveis
Os parceiros israelenses neste empreendimento de Leonard Cohen militam ativamente para prejudicar os esforços para uma paz justa. O Centro Peres para a Paz, com seus vários milhões de dólares de orçamento anual e quinze milhões de dólares em patrimônio, está listado pelo Jerusalém Post como um beneficiário do fundo recém criado pela Anistia Internacional, sendo também um novo membro do Conselho de Administração do Fundo de Curadores. O Centro Peres foi denunciado pelo líder palestino das organizações da sociedade civil como uma entidade que não serve para a concretização de reconciliação porque fortalece a reputação institucional e a legitimidade de Israel sem restaurar justiça aos palestinos. Um colunista do jornal Haaretz de Israel tem chamado o Centro Peres de paternalista e colonial, explicando que, na prática, está se esforçando para convencer a população palestina a aceitar a sua inferioridade e prepará-la para sobreviver no âmbito da arbitrariedade impostas por Israel, a fim de garantir a superioridade da etnia dos judeus.


Outro parceiro neste projeto, segundo o Jerusalem Post, é Israel Discount Bank, uma das principais patrocinadoras do concerto de Cohen. Matéria publicada no jornal Haaretz relata que este banco tem ramificações nos assentamentos de Beitar Illit e Maale Adumim, financia a construção em assentamentos de Har Homa, Beitar llit e Maale Adumim e é um acionista majoritário em uma fábrica que funciona em um assentamento.

A Anistia Internacional está contradizendo seus princípios fundadores
Os dirigentes da Anistia Internacional parecem ter se esquecido que todos os assentamentos de colônias israelenses construídos em território palestino ocupado não só são ilegais à luz do direito internacional, mas são considerados crimes de guerra de acordo com Quarta Convenção de Genebra. Uma parceria com um banco que lucra a partir da ocupação contradiz os princípios fundadores da Anistia e os compromissos com os direitos humanos.

Leonard Cohen tenta minimizar os efeitos negativos do seu concerto em Israel
Sentindo a crescente calor dos protestos, Cohen tentou agendar um pequeno concerto em Ramallah para "equilibrar" o seu concerto em Israel. No entanto, os palestinos rejeitaram o concerto em Ramallah. O grupo palestino que supostamente iria organizar o evento em Ramallah cancelou o convite para Cohen após perceber os efeitos negativos que teria na campanha do boicote que é amplamente apoiada pelos palestinos. Refletindo o clima geral na sociedade palestina , o grupo alegou que não havia simetria entre a potência ocupante e as pessoas sob a ocupação.
Beth Monteiro
Fonte: Jornal Haaretz
Intifada Eletrônica