quinta-feira, 14 de maio de 2009

Prisioneiros da indiferença




O papa Bento XVI, em sua visita ao Oriente Médio, encontrou-se com familiares de dois prisioneiros palestinos, não sem antes “participar do sofrimento “ da família do soldado Gillad Shalit – único prisioneiro de Israel na Palestina contra mais de 11.000 prisioneiros palestinos nas horripilantes prisões de Israel destinadas aos presos políticos. Quanta demagogia! Será que o “Santo” padre acredita mesmo que deu tratamento igual a ambos os lados? Ou será que ele acha que a liberdade de Shallit vale tanto quanto a liberdade de 11.000 palestinos? Se é assim, podemos fazer negócio.


Tal como a mídia vendida, os governos “democráticos” e as Organizações de Direitos Humanos, o líder espiritual dos católicos fecha os olhos, tapa os ouvidos e silencia frente à violência do encarceramento das vítimas da ocupação ilegal de suas terras, cujos crimes não passam do legítimo exercício de seus direito, garantidos pela Convenção de Genebra: resistir à usurpação, à agressão e os constantes assédios das forças nazi-sionistas de Israel.


Falar das terríveis condições dos cárceres israelenses destinados aos presos políticos palestinos, que são praticamente idênticas às dos campos de concentração nazistas, e das torturas impostas aos líderes políticos e militantes dos diversos partidos e organizações palestinas, pode parecer injustiça para com os brasileiros, em sua maioria pobres, que lotam as cadeias de nosso país, cujas condições, são absurdamente precárias.


Entretanto, existem diferenças importantes que devem ser ressaltadas para que este tipo argumento não sirva de desculpa para que não se lute para romper esse silêncio, inclusive daqueles que apóiam a causa palestina.
Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que nenhum prisioneiro, culpado ou inocente, deve ser tratado de forma desumana e que as condições dos presídios devem garantir os direitos previstos nas convenções internacionais de direitos humanos. Entretanto, não se pode afirmar que todos os detentos brasileiros e de outros países sejam inocentes e estejam sem assistência jurídica, ao contrário dos palestinos que apenas defendem seus direitos e não contam com assistência jurídica isenta.


Quanto a precariedade dos nossos presídios, temos condições de lutar para mudar essa situação dramática porque ainda não estamos enfrentando um governo nazista, em que pese a crescente criminalização dos movimentos sociais.


Na América Latina, temos a tradição de ver os guerrilheiros como heróis libertadores dos povos oprimidos. Che Guevara é o maior ídolo e orgulho das esquerdas da América Latina, sendo seu heroísmo, sua conduta ética e seus ideais um grande exemplo a ser seguido em todo o mundo. É como Che que vemos nossos guerrilheiros. No Brasil mesmo, todos os combatentes que caíram ou foram presos e torturados durante a Ditadura Militar são ainda hoje, lembrados como heróis. Por que, então, os guerrilheiros, os combatentes, as lideranças políticas e comunitárias da Palestina, que tombam em combate ou são presos, não despertam o mesmo tipo de sentimento em nossa América?


As razões para esse comportamento pode ser explicado pela insidiosa propaganda sionista que não poupa recursos para transformar suas mentiras em “verdades”. Ocupando todos os espaços da mídia em praticamente todos os países do mundo, o sionismo molda a mente das pessoas á sua imagem e semelhança. Nem os mais conscientes dos cidadãos escapam dessa armadilha. Muitos ainda acreditam que os prisioneiros palestinos são terroristas porque assim quer a propaganda oficial, quando se trata da mais deslavada mentira.


Só no Brasil, existem centenas de milhares de publicações sindicais, estudantis e alternativas; um grande número de jornais de parlamentares de esquerda e de ONGs de direitos humanos. Tudo isso, sem contar com sites na Web, Tvs e rádios comunitárias. Infelizmente, o espírito internacionalista passa longe dessas publicações, salvo honrosas exceções.


Para que a questão dos prisioneiros palestinos seja conhecida e desperte a indignação nas pessoas, cuja humanidade ainda não foi perdida, é preciso romper, em primeiro lugar, as barreiras da própria imprensa engajada na luta pelos direitos dos povos. O fato de cada entidade ter que priorizar sua base social, não exclui um compromisso com os valores fundamentais da humanidade.
Beth Monteiro

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O facismo ganha força dentro de Israel, diz vereador de Jerusalém

Uma entrevista interessante com um vereador israelense denunciando o autoritarismo do governo de Israel.
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/elpais/2009/05/12/ult581u3229.jhtm
Veja o vídeo "PALESTINA, MARTÍRIO DE UM POVO" do Comitê Viva Palestina Niterói

Uma linha do tempo desde o Nakba ( A tragédia) até os dias atuais. Em duas partes.

http://www.youtube.com/watch?v=qBLaEhWEv9c

http://www.youtube.com/watch?v=f8kK4DvyBYA

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Palestina na encruzilhada do labirinto





Os labirintos com encruzilhada são os possuem nós com vários caminhos de partida, quase todos , sem saída. Para sair de um labirinto com encruzilhadas podemos utilizar o “ método da esquerda”, neste caso, é preciso caminhar apoiando constantemente uma mão na parede e avançar sem perder o contato (com o povo) ou, então. marcarmos os caminhos sem saída, que percorremos inutilmente, para não corrermos o risco de repetir mais uma longa e frustrante caminhada.

Vivem-se dias trágicos na Palestina. Seu povo e suas lideranças honestas encontram-se em uma encruzilhada desse labirinto, em que praticamente todos os caminhos para uma saída, já foram percorridos, até mais de uma vez. Não existe mais espaço para erros. Não se pode tomar, novamente, um caminho sem saída.

As lutas contra o colonialismo e a dominação tem se mostrado longas e dolorosas, mas a vitória acabou sendo alcançada, em muitos casos. Para a independência da Argélia, por exemplo, foram necessários muitos anos de rebelião popular, ações guerrilheiras e uma campanha mundial de apoio. Entre a invasão da França, em 1830 e a independência, passaram-se mais de cem anos de lutas: a República Popular Democrática da Argélia só foi proclamada após eleições da Frente de Libertação Nacional e Ben Bella torna-se presidente em 1962. A heróica e obstinada resistência vietnamita, durante a guerra de colonização empreendida pelos Estados Unidos sobre o pobre Vietnan, foi capaz de impor uma vergonhosa derrota ao maior exército do planeta. Em ambos os casos uma campanha mundial de apoio foi fundamental.

Ainda que a estrada seja longa e cheia de obstáculos, se for tomada a direção correta, é possível vencer Israel. As duas intifadas palestinas e a retirada do Líbano, em 2000, demonstraram que essa entidade nazi-sionista não é invencível, assim como a derrota das tropas sionistas no Líbano frente à resistência encabeçada pelo Hizbollah, em 2006, deixou claro que a derrota e o fim dessa imitação de estado é possível, assim como foi possível destruir o Estado Nazista da Alemanha e o Estado do Apartheid da África do Sul.

Quando a necessidade do diálogo entre as forças políticas da Palestina faz-se mais necessária do que nunca, nem que seja para evitar o colapso total dos territórios ocupados, Abbas mostra mais um caminho sem saída , ao nomear para primeiro-ministro um ex-funcionário do Banco Mundial e do FMI, Salam Fayyad, que obteve 2,4% dos votos nas eleições. Agora, o atual chefe da OLP, que era um zero á esquerda até o início do massacre em Gaza entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, passou a ser bajulado por autoridades governamentais em quase todo o mundo como um homem competente, conciliador e pragmático. Eis aí uma indiscutível demonstração de fragilidade das forças reacionárias que dominam mundo que, na falta de líderes mais respeitados, têm que se apoiar num governo fraco e ilegítimo.

Como esse novo governo engendrado por Abbas, que é tão falso como o mal chamado estado de Israel, já nasceu morto e repudiado pela esquerda, pelo Hamás e pelo povo, chegou a hora de seguir o fio de Ariadne* para alcançar uma saída.

Qual saída?

Sem dúvida, é necessário e urgente a construção de um programa político que seja compreendido e adotado pelos palestinos e o fortalecimento da resistência militar em conjunto com todas as forças da esquerda mais o Hamas , agregando os povos árabes e muçulmanas, sem abrir mão dos contatos diretos e permanente com as forças progressistas em todo o mundo, que deverão, entre outras tarefas, atuar cotidianamente com a contra-informação de modo a neutralizar a propaganda sionista.

Este programa deve deixar claro que a defesa da Libertação Nacional não exclui a luta pelo Socialismo para se evitar os equívocos cometidos pelos marxistas na revolução iraquiana que depois de lutarem ao lado das forças fundamentalistas, foram perseguidos por elas. No auge daquela revolução, havia a possibilidade da derrubada do capitalismo.

Que Abbas apontasse mais uma vez para o caminho que leva os palestinos ao precipício, era de se esperar porque ele só faz política para salvar sua própria pele e de seu partido, num oportunismo que beira ao ridículo. Resta, agora, às lideranças honestas mostrarem o caminho certo.

por Beth Monteiro


*O termo "fio de Ariadne" surgiu a partir da lenda de Ariadne da mitologia Grega. É um termo usado para descrever a resolução de um problema utilizando diversos modos de agir como, por exemplo, um labirinto físico, um quebra-cabeça de lógica ou um dilema ético, através de uma aplicação exaustiva da lógica por todos os meios disponíveis. É o método singular que permite seguir os vestígios das pistas ou assimilar as verdades encontradas em um evento.

domingo, 10 de maio de 2009

Pelo Dia das Mães prisioneiras da Faixa de Gaza



“...ela esteve tão desesperada que decidiu fazer uma greve da fome quanto ainda estava grávida... seu bebê, Joseph, de 15 meses de idade é um prisioneiro palestino em prisão de Israel... parece que as organizações de direitos humanos não se importam com o sofrimento dos prisioneiros palestinos... eles tentaram forçar-me a um aborto, oferecendo diferentes medicamentos que me recusei a tomar, eu disse que os bebês são uma benção de Deus...a primeira cela em que me puseram era pior que um túmulo sob a terra, os esgotos estão transbordando, atraindo grande quantidade de insetos e cheiro ruim. Eu desenvolvi infecções de pele e piolhos por toda a minha cabeça, o local é um perigo para a saúde”,


10 de maio de 2009

A prisioneira Fatima Alziq tem 40 ano e nove filhos. É uma mãe da Faixa de Gaza que foi privada do seu direito de ver qualquer um de seus filhos desde o dia em que foi presa há dois anos pelas autoridades israelitas. Seu marido, Mohammed, está sofrendo e lutando todos os dias, desde então, com oito crianças que vivem pedindo para ver sua mãe e seu irmão bebê que nasceu prisioneiro também.
“Minha esposa Fátima foi detida na prisão Telmond Hasharon dois anos atrás, ela trabalhava com uma iniciativa social ajudando as mulheres. Ela foi acusada de intenção de realizar um ataque suicida contra as forças da ocupação israelita, esta acusação chocou a todos nós e ela ainda está presa com o nosso bebê de 15 meses, Joseph ", explicou Mohammad que nunca viu seu filho caçula porque as autoridades israelitas lhe nega esse direito também.
Quando perguntamos ao atormentado pai se ele estava autorizado a falar com a esposa pelo telefone, ele disse que apenas foi autorizado a chamá-la três vezes desde que foi detida, e isso significa um telefonema a cada sete meses. Em geral, a todos os prisioneiros de Gaza são negadas as visitas da família, pelas autoridades israelitas, incluindo crianças. "Eu estava preocupado com sua segurança, quando ela esteve tão desesperada que decidiu fazer uma greve da fome quanto ainda estava grávida, mas pediu para manter só o sal porque ela tinha baixa de pressão arterial. Fátima estava desesperada para obter o apoio de qualquer organização de direitos humanos, mas parece que ninguém se importou o suficiente com as mulheres prisioneiras palestinas”, afirmou Mohammad.
O maior afetado pela detenção de Fátima é o seu filho Suleiman de seis anos de idade que precisa dos cuidados da mãe e de sua ternura. Ele tinha apenas quatro quando sua mãe foi presa. "Estamos agora tentando gerir nossas vidas por nossa própria conta, depois que prenderam a minha esposa, mas não posso fingir que estou desempenhando bem esta tarefa; é uma situação extremamente difícil. Fátima deixou um vazio em nossas vidas, ela estava trabalhando dentro e fora de casa, antes de sua prisão. Tenho desempenhado os papéis de mãe e de pai desde sua detenção, tendo cuidado de oito filhos e trabalhando ao mesmo tempo para garantir o sustento deles”, disse Mohammad .
Fátima pediu a um advogado, que visita a prisão, para ver as oito crianças, mas não obteve resposta. Ela sofre como todos os presos oriundos da Faixa de Gaza, e está decepcionada com a falta de interesse das organizações de direitos humanos pelo sofrimento dos prisioneiros palestinos . Aos prisioneiros faltam muitas das necessidades básicas. A administração prisional israelita recusa-se a fornecer-lhes o essencial, além de impedi-los de terem acesso a essas necessidades quando são enviadas por suas famílias, além de proibirem as visitas. Fátima não vê qualquer membro da sua família há mais de 20 meses. A administração prisional confisca os prisioneiros, assim como as cartas que são consideradas o único meio de comunicação com as suas famílias.
Fátima conseguiu enviar apenas uma carta para sua família, assim que foi detida. Num trecho ela escreve: "a primeira cela em que me puseram era pior que um túmulo sob a terra, os esgotos estão transbordando, atraindo grande quantidade de insetos e um cheiro ruim. Eu desenvolvi infecções de pele e piolhos por toda a minha cabeça, o local é um perigo para a saúde”,
No que diz respeito ao tratamento que ela estava recebendo pelas guardiãs do presídio feminino de Israel, ela escreveu: “'soldados do sexo feminino me perguntavam desde quando eu me tornei uma muçulmano praticante, eu respondi que desde que eu era uma garotinha, porque fui criada em uma família praticante ... elas começaram a gritar no meu rosto e a me chamar de terrorista. Eles tentaram forçar-me a um aborto, oferecendo diferentes medicamentos que me recusei a tomar, eu disse que os bebês são uma benção de Deus" .
Fátima e outras prisioneiras palestinas têm enviado dezenas de cartas por meio da Cruz Vermelha para suas famílias, mas nenhuma foi entregue , pois disseram que não receberam qualquer carta que lhes foi enviado por familiares presos. Tal isolamento foi descrito pelos presos como uma tragédia. Mas para Fátima, a tragédia é maior porque seu bebê "Joseph" sofre a falta de muitos elementos essenciais que ela não pode transmitir-lhe em tal o estado de isolamento total, para além do fato de ele ter sido privado de uma vida normal de desfrutar da companhia do pai ou de seus irmãos, sofrendo um dos castigos mais aviltantes que uma criança pode ser submetida.
Apesar das promessas da direção do sistema prisional israelense, o bebê Joseph ainda está na prisão, sem contato com outras crianças. Seus pais estão preocupados com o tipo de vocabulário que ele vai aprender na prisão. Ele nunca ouviu um pássaro ou a voz de outras crianças, ele só ouve as ríspidas batidas das portas das celas.
Por Iqbal Tamimi
Palestine Think Tank
Tradução: Beth Monteiro