quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

TUNÍSIA: MUHAMMAD BOUAZIZ COLOCOU FOGO NO CORPO E INCENDIOU O PAÍS


Depois da erupção dos protestos em vários países da Europa contra o corte de direitos trabalhistas e sociais, mobilizações de massa puseram fim a 23 anos de regime repressivo na Tunísia, derrubando o governo de Zine El Abidine Ben Ali, considerado como o mais estável entre os regimes árabes, sinalizando uma nova etapa de levantes revolucionários em vários países.

A onda de protestos eclodiu a partir da auto-imolação de Muhammad Bouaziz, que apesar de graduado em curso superior, não conseguia encontrar um trabalho regular e foi privado, por parte das autoridades, do seu magro sustento, vendendo verduras. Ele colocou fogo em seu próprio corpo e incendiou o país.

Com a queda do governo de Ben Ali,representantes da elite tunisiana tentaram uma contra-ofensiva: sob o disfarce de "governo de unidade nacional", prometeram eleições. Mas o estado de emergência e toque de recolher permaneceram.

As condições sociais que levaram à revolta popular na Tunísia predominam em todo o Magrebe e no Médio Oriente e são semelhantes à situação da classe trabalhadora nos países europeus que enfrentam duros ataques ao seu nível de vida devido à crise econômica global.

A burguesia da Tunísia, dos demais países árabes e o imperialismo estão muito preocupados com a queda de Ben Ali,principalmente com os protestos em massa nos países vizinhos. Manifestantes no Egito, Argélia e Mauritânia fizeram protesto de auto-imolação como o que inicialmente estimulou os protestos na Tunísia,além disso, houve protestos populares em vários países da região.

Mohammad al-Sabah, representante do Kuwait, disse em uma reunião preparatória dos ministros dos Negócios Estrangeiros, "O mundo árabe testemunha, hoje, uma revolução política sem precedentes e desafios reais na esfera da segurança nacional”, acrescentando em seguida que “ os países Árabes estão se desintegrando com as revoltas conduzidas pelas massas”. Jackson Diehl, membro do conselho editorial do Washington Post, escreveu na sexta-feira,14/01: "A ameaça mais iminente aos interesses dos EUA no Oriente Médio não é uma guerra, é uma Revolução".

Enquanto Hillary Clinton mudava seu discurso para se adaptar à nova realidade , dizendo que os Estados Unidos deixava de ser neutro para apoiar os protestos na Tunísia, a Liga Árabe assumiu a defesa da "estabilidade", o que significa o aplastamento do movimento de massas. Kaddafi, da Líbia, defendeu abertamente Ben Ali contra os manifestantes e advertiu sobre a eminência de uma nova revolução bolchevique.

O sindicato dos Trabalhadores (UGTT), que apoiou Ben Ali nas últimas duas eleições presidenciais,apressou-se a aderir ao governo de “Unidade Nacional”. Mas centenas de pessoas marcharam até à sede da Central para protestar contra a sua participação no governo. O resultado foi a renúncia do primeiro-ministro e do presidente interino, apenas algumas horas depois da posse.

O povo palestino, que luta há mais de seis décadas contra a ocupação colonial, o genocídio e a apartheid praticada pelo Estado fascista de Israel, terá muito mais chance de vitória se as massas dos países árabes se levantarem para derrubar os regimes ditatoriais, corruptos e subservientes ao imperialismo e construírem, nessa luta, um programa que aponte para a construção do Socialismo com Democracia em todos os países do O.M. O levante da Tunísia é apenas o primeiro passo dessa caminhada. Por isso precisa do apoio efetivo dos trabalhadores de todo o mundo.

Beth Monteiro