
“...ela esteve tão desesperada que decidiu fazer uma greve da fome quanto ainda estava grávida... seu bebê, Joseph, de 15 meses de idade é um prisioneiro palestino em prisão de Israel... parece que as organizações de direitos humanos não se importam com o sofrimento dos prisioneiros palestinos... eles tentaram forçar-me a um aborto, oferecendo diferentes medicamentos que me recusei a tomar, eu disse que os bebês são uma benção de Deus...a primeira cela em que me puseram era pior que um túmulo sob a terra, os esgotos estão transbordando, atraindo grande quantidade de insetos e cheiro ruim. Eu desenvolvi infecções de pele e piolhos por toda a minha cabeça, o local é um perigo para a saúde”,
10 de maio de 2009
A prisioneira Fatima Alziq tem 40 ano e nove filhos. É uma mãe da Faixa de Gaza que foi privada do seu direito de ver qualquer um de seus filhos desde o dia em que foi presa há dois anos pelas autoridades israelitas. Seu marido, Mohammed, está sofrendo e lutando todos os dias, desde então, com oito crianças que vivem pedindo para ver sua mãe e seu irmão bebê que nasceu prisioneiro também.
“Minha esposa Fátima foi detida na prisão Telmond Hasharon dois anos atrás, ela trabalhava com uma iniciativa social ajudando as mulheres. Ela foi acusada de intenção de realizar um ataque suicida contra as forças da ocupação israelita, esta acusação chocou a todos nós e ela ainda está presa com o nosso bebê de 15 meses, Joseph ", explicou Mohammad que nunca viu seu filho caçula porque as autoridades israelitas lhe nega esse direito também.
Quando perguntamos ao atormentado pai se ele estava autorizado a falar com a esposa pelo telefone, ele disse que apenas foi autorizado a chamá-la três vezes desde que foi detida, e isso significa um telefonema a cada sete meses. Em geral, a todos os prisioneiros de Gaza são negadas as visitas da família, pelas autoridades israelitas, incluindo crianças. "Eu estava preocupado com sua segurança, quando ela esteve tão desesperada que decidiu fazer uma greve da fome quanto ainda estava grávida, mas pediu para manter só o sal porque ela tinha baixa de pressão arterial. Fátima estava desesperada para obter o apoio de qualquer organização de direitos humanos, mas parece que ninguém se importou o suficiente com as mulheres prisioneiras palestinas”, afirmou Mohammad.
O maior afetado pela detenção de Fátima é o seu filho Suleiman de seis anos de idade que precisa dos cuidados da mãe e de sua ternura. Ele tinha apenas quatro quando sua mãe foi presa. "Estamos agora tentando gerir nossas vidas por nossa própria conta, depois que prenderam a minha esposa, mas não posso fingir que estou desempenhando bem esta tarefa; é uma situação extremamente difícil. Fátima deixou um vazio em nossas vidas, ela estava trabalhando dentro e fora de casa, antes de sua prisão. Tenho desempenhado os papéis de mãe e de pai desde sua detenção, tendo cuidado de oito filhos e trabalhando ao mesmo tempo para garantir o sustento deles”, disse Mohammad .
Fátima pediu a um advogado, que visita a prisão, para ver as oito crianças, mas não obteve resposta. Ela sofre como todos os presos oriundos da Faixa de Gaza, e está decepcionada com a falta de interesse das organizações de direitos humanos pelo sofrimento dos prisioneiros palestinos . Aos prisioneiros faltam muitas das necessidades básicas. A administração prisional israelita recusa-se a fornecer-lhes o essencial, além de impedi-los de terem acesso a essas necessidades quando são enviadas por suas famílias, além de proibirem as visitas. Fátima não vê qualquer membro da sua família há mais de 20 meses. A administração prisional confisca os prisioneiros, assim como as cartas que são consideradas o único meio de comunicação com as suas famílias.
Fátima conseguiu enviar apenas uma carta para sua família, assim que foi detida. Num trecho ela escreve: "a primeira cela em que me puseram era pior que um túmulo sob a terra, os esgotos estão transbordando, atraindo grande quantidade de insetos e um cheiro ruim. Eu desenvolvi infecções de pele e piolhos por toda a minha cabeça, o local é um perigo para a saúde”,
No que diz respeito ao tratamento que ela estava recebendo pelas guardiãs do presídio feminino de Israel, ela escreveu: “'soldados do sexo feminino me perguntavam desde quando eu me tornei uma muçulmano praticante, eu respondi que desde que eu era uma garotinha, porque fui criada em uma família praticante ... elas começaram a gritar no meu rosto e a me chamar de terrorista. Eles tentaram forçar-me a um aborto, oferecendo diferentes medicamentos que me recusei a tomar, eu disse que os bebês são uma benção de Deus" .
Fátima e outras prisioneiras palestinas têm enviado dezenas de cartas por meio da Cruz Vermelha para suas famílias, mas nenhuma foi entregue , pois disseram que não receberam qualquer carta que lhes foi enviado por familiares presos. Tal isolamento foi descrito pelos presos como uma tragédia. Mas para Fátima, a tragédia é maior porque seu bebê "Joseph" sofre a falta de muitos elementos essenciais que ela não pode transmitir-lhe em tal o estado de isolamento total, para além do fato de ele ter sido privado de uma vida normal de desfrutar da companhia do pai ou de seus irmãos, sofrendo um dos castigos mais aviltantes que uma criança pode ser submetida.
Apesar das promessas da direção do sistema prisional israelense, o bebê Joseph ainda está na prisão, sem contato com outras crianças. Seus pais estão preocupados com o tipo de vocabulário que ele vai aprender na prisão. Ele nunca ouviu um pássaro ou a voz de outras crianças, ele só ouve as ríspidas batidas das portas das celas.
Por Iqbal Tamimi
Palestine Think Tank
Tradução: Beth Monteiro
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