domingo, 14 de fevereiro de 2016

MAL MENOR


Para a esquerda maidanista, um derivado da esquerda pós-moderna, mas  que ainda guarda laços com a luta de classe,  a prioridade na guerra na Síria não é combater o Estado Islâmico  — marionetes dos Estados Unidos e aliados—, mas  Assad e Putin. Neste sentido adotaram descaradamente as prioridades de Washington para mudança de regime naquele país.

AS posições políticas dessas  organizações, que se reivindicam trotskistas,  não  têm nenhum poder concreto para mudar a correlação de forças entre  a classe trabalhadora mundial e o imperialismo “democrático”  hegemônico  norte-americano,  pois não passam de comentaristas políticos. Não obstante, é interessante demonstrar, aos desavisados, que  este tipo de alinhamento a um imperialismo agressor não tem nada a ver com Trotsky e muito menos com os pressupostos da Quarta Internacional.

Não vejo mérito algum em  determinar se a Rússia ou a China são , ou não, imperialistas, haja vista que qualquer país capitalista seja França. Reino Unido, Canadá ou Brasil, nos marcos do capitalismo, só têm  duas saídas para não serem devorados pelo poder das oligarquias internacionais: serem imperialistas  hegemônicos ou subimperialistas —  um tipo de capitão do mato elevado à décima potência, traindo os seus  pares para lograrem um lugarzinho na  cozinha da Casa Grande.

Trotsky (em seu Programa de Transição) dizia que  “o dever do proletariado internacional será ajudar os países oprimidos em guerra contra seus opressores. Este mesmo dever estende-se também à URSS ou a outro Estado operário que possa surgir antes da guerra ou durante. A derrota de todo governo imperialista na luta contra um Estado operário ou um país colonial é o mal menor.”

“Em Allepo , o regime   sírio  está avançando muito rapidamente em uma  colaboração óbvia entre o regime, os curdos e os russos. Agora temos que lutar contra três gigantes ao mesmo tempo. Temos muito pouco à esquerda. Nada pode mudar as coisas agora. Eu não posso mentir e dizer que a posição do ESL (Exército Sírio Livre)  é forte, “ disse   um membro do ESL, ao  Guardian.

Um  milhão de iraquianos foram mortos pelas  bombas despejadas por aviões de guerra da maior potência bélica do mundo — EUA e aliados—,  pelas balas de fuzis, de  metralhadoras e armas químicas  da maior “democracia” do mundo. Mais de 200 mil pessoas foram mortas na Síria  nesta guerra que  vai completar cinco anos , algumas  pelas bombas  primitivas (barril de pólvora) do  regime de Al Assad, outras  nos enfrentamentos entre   soldados do Exército Árabe  Sírio e as  inúmeras milícias terroristas  takfirs  financiadas pelo imperialismo norte-americano e aliados, incluindo Al-Qaeda /Al Nusra, Daesh ou Estado Islâmico.

O Iraque tem cerca de 33,43 milhões de habitantes e a Síria , cerca de 22,85 milhões.  Portanto um milhão de pessoas mortas  na guerra dos EUA contra o Iraque, significa   aproximadamente 0,4 % da população. Na Síria, os  mais de 200 mil mortos representam aproximadamente  0,25 % da população.  São números terríveis, obscenos e difícil de aceitar, assim como não  é  aceitável  culpar  apenas um ditador de um país indefeso atacado por todos os lados pelas grandes  potências  e aliados, e, também, aceitar  que certo esquerdistas, lancem mãos de pieguismos quando informam suas bases de forma subliminar, que existem guerras mais humana do que outras, e assim, embelezam ações dos  Estados Unidos que, através de seus proxies, provocaram esta carnificina.

Sim, Assad é  mau, é terrível, Putin também é belicista e é terrível. Mas temos que refletir sobre o  que uns e outros estão defendendo. Do meu ponto de vista,  Obama defende a manutenção da hegemonia imperialista dos Estados Unidos e sua dominação total sobre o resto  do mundo  , enquanto a Rússia, a Síria, o Irã e aliados lutam pra não serem dominados.  E sem uma Revolução Socialista , tentarão apenas lutar para serem o imperialismo hegemônico.
Nosso papel como classe trabalhadora, não é defender um ou outro imperialismo, mas, taticamente neste momento, nos colocarmos a favor de quem está sendo atacado e contra os mais fortes  que estão atacando.


Por Beth Monteiro

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